Trata-se de uma satírica série de animação dos mesmos criadores de Uma Família da Pesada. Estreou nos Estados Unidos em fevereiro de 2005, está na 15ª temporada, e já foi exibida aqui no Brasil na FOX, na Rede Globo e na FX.
American Dad! retrata a vida familiar de Stan Smith, um agente da CIA meio aloprado, extremamente ufanista e não muito inteligente. O cara é tão conservador linha-dura que faz Trump e Bolsonaro parecerem socialistas. Sua esposa, Francine, é uma ex-groupie com um passado de porra-louca que tenta tocar sua vida como devotada dona-de-casa. A filha, Hayley, pretendente a riponga, é esquerdista até a medula (para o desgosto do pai). O filho, Steve, mal entrou na puberdade e seu projeto de vida consiste em tentar apertar um par de seios (sem sucesso). As situações absurdas ficam por conta de Roger, um alienígena alcoólatra de 1.600 anos veterano da Área 51 que salvou a vida de Stan, e, por isso, vive escondido no sótão. Roger é egoísta e inconsequente. Vive colocando a família em enrascadas (só perde neste quesito para o patriarca). A cada episódio aparece com um novo disfarce para não chamar atenção. Como se isso tudo não bastasse, ainda temos Klaus — um peixinho dourado com o cérebro transplantado de um esquiador olímpico da antiga Alemanha Oriental que vive num aquário (ou num copo, às vezes), e cultiva uma tara não-correspondida por Francine.
Muito bem. No 8º episódio na 4ª temporada (intitulado Chimdale), descobre-se que Steve tem escoliose. E é obrigado pela família a usar um colete que mais parece um tanque de guerra. Estigmatizado na escola, ele come o pão que o diabo amassou. Depois de levar muitas bordoadas, resolve não usar mais o colete. Steve então descobre que seu pai é completamente careca. Solidarizando-se com seu filho, Stan comunica-o que não vai mais usar peruca. Se o filho tem que pagar mico na escola, ele também pagará no trabalho. Mas, quando Steve descobre que seu pai estava usando o topete escondido, o couro come. O estilo do programa é nonsense. Mas, por outro lado, usar o colete muitas vezes desafia o bom-senso.
A coluna, sob visão anterior ou posterior, deveria ser reta. Qualquer curva lateral leva o nome de escoliose. O uso do colete é recomendado pela medicina tradicional. Existem vários tipos: TLSO, Boston, Charleston, Milwaukee… Este último é o mais tradicional. Usado desde a década de 40, é recomendado para curvas com mais de 30°. A ideia é imobilizar a região durante o período de crescimento do adolescente.
O colete tem que ser usado por, pelo menos, 23 horas por dia até atingir a maioridade óssea. Em teoria, o uso intenso do colete num período tão crucial na vida de uma criança seria suficiente para inibir a progressão da curva. Mas, nem sempre é tão simples assim. Cada caso é um caso. Cada paciente responderá de uma maneira diferente. Usar um trambolho daqueles durante anos constrange muito o jovem. E, nem sempre é inteiramente eficaz.
Atendemos alguns anos atrás uma menina de 15 anos (na época) que usava o colete desde os 12. A mãe tinha todas as radiografias tiradas desde os 11 anos de idade. Ao elaborarmos um gráfico, constatamos que a escoliose deu um salto exponencial durante os dois surtos de crescimento da paciente. O colete, mesmo sendo usado religiosamente, não foi suficiente para impedir a progressão da curva. A estabilização ocorreu quando, além da Quiropraxia, a paciente começou concomitantemente a fazer R.P.G. (Reeducação Postural Global) com uma fisioterapeuta. A união de duas modalidades teria um efeito benéfico na escoliose? Ou a estabilização iria ocorrer de qualquer jeito (mesmo sem o colete, Quiropraxia ou o R.P.G)?
“É impossível atualmente afirmar que o colete altera efetivamente a rota natural da escoliose em pacientes imaturos com alto risco de progressão” (Noonan, ET. AL. Use of the Milwaukee brace for progressive idiopathic scoliosis. J Bone Joint Surg 78A: 557, 1996). Estudo conduzido pelo Dr. John E. Lonstein, professor do departamento de cirurgia ortopédica da Universidade de Minnesota, concluiu que somente 50% dos pacientes obtêm algum grau de sucesso pelo uso do colete. Funcionar, meio que funciona – mas nem sempre.
Definitivamente é um assunto que merece ser discutido. Neste ínterim, vale a pena tentar outros tipos de tratamento, sem, necessariamente, descartar o colete. Até porque há outros bem menos invasivos e mais individualizados disponíveis no mercado. O Steve do desenho só precisou usar o dele por seis semanas. Seria tão bom se na vida real fosse assim…