Nossa história começa em duas cidades americanas no finalzinho do século XIX: Kirksville, Missouri e Davenport, Iowa — separadas uma da outra por pouco mais de 300 km. Na primeira, o médico americano Andrew Taylor Still criou a osteopatia em 1874; na segunda, em 1895, o canadense Daniel David Palmer postulou os preceitos da Quiropraxia. Ambos os tratamentos envolvem terapia manual à base de manipulação.

Poderia Palmer ter bebido da mesma fonte criada por A.T. Still? Seja lá como for, Still fundou a American School of Osteopathy em 1892 (hoje A.T. Still University). Já D.D. Palmer fundou a Palmer School and Cure em 1897 (hoje Palmer College of Chiropractic).

A Quiropraxia baseia-se no Complexo de Subluxação Vertebral (CSV). Não se trata somente de uma simples vértebra desalinhada e/ou “travada” (cinesiopatologia); mas também de problemas musculares decorrentes (miopatologia); irritação química, pinçamento, ou distensão das raízes nervosas (neuropatologia); bicos-de-papagaio, discopatias e fibroses causadas direta ou indiretamente pelos três fatores acima (histopatologia); e todos os quatro coadunando com agentes bioquímicos (substância P, histamina, calcitonina, peptídeo intestinal vasoativo) que resultam em mudanças biomecânicas na coluna (patofisiologia).

Para a osteopatia, estrutura é relacionada com função. Sendo assim, a estrutura neuromusculoesquelética regula todos os outros sistemas. Disfunções nela contribuem para o surgimento de doenças. Se estas disfunções forem eliminadas, nosso próprio organismo tem a capacidade de se autorregular e de se curar. Para isso, necessita-se boa circulação vascular. Como uma unidade em movimento, o corpo precisa contar com seu fluxo nervoso, vascular e linfático funcionando normalmente.

Quiropraxia também acredita que o corpo possui um potencial de cura, contanto que as condições estejam propícias a isso. O tratamento consiste em procurar, detectar e eliminar o CSV. A manipulação vertebral (prefere-se o termo ajustamento) é rápida, concisa e de curta amplitude.

Por incluir o componente vascular e linfático na equação, as manipulações dos osteopatas são tipicamente mais lentas, abrangentes e de maior amplitude. Há estimulo manual dos tecidos (articulações, músculos, tendões, fáscias, ligamentos, cápsulas, vísceras, tecido nervoso, vascular e linfático) com técnicas específicas (massagens e outros exercícios). Segundo A. T. Still, essas intervenções aumentam “a capacidade de recuperação do organismo de forma natural” (Fonte: notícias uol, 02/02/2013).

Pode-se dizer então que a Quiropraxia é uma espécie de prima da osteopatia e vice-versa. Por terem começado em lugares e anos tão próximos uma da outra, sempre houve uma “rivalidade amigável” entre as duas profissões.

A Quiropraxia nos Estados Unidos tornou-se uma profissão independente. Hoje é disparado o tratamento “não-convencional” mais utilizado por lá. Já a osteopatia foi incorporada pela medicina e virou uma especialização (7% dos médicos são osteopatas).

No Brasil, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito) reconhece a osteopatia, que “só pode ser exercida por fisioterapeutas formados e com (…) pós-graduação específica na técnica”. De acordo com o Colégio Brasileiro de Osteopatia (CBO), “a Formação Completa tem duração de 4 anos” e totaliza “1.500 horas de curso”. Nas terras tupiniquins, Quiropraxia é uma profissão independente (4.800 – 5.200 horas), mas que busca regulamentação no Congresso Nacional.

Há entidades que afirmam Quiropraxia ser uma especialização. Mas tais currículos tendem a ser insuficientes e deficitários em alguns aspectos-chaves da profissão (como imagenologia, por exemplo).

Em 2013, havia mais osteopatas (quase 70 mil) do que Quiropraxistas (mais de 60 mil) nos Estados Unidos. Porém, de acordo com o Departamento de Trabalho americano (o Ministério do Trabalho deles), o número de Quiropraxistas (taxa de crescimento anual de 28%) deveria ter ultrapassado o de osteopatas (24%) antes de 2020.

No entanto, desde que este artigo foi escrito, esta previsão não se concretizou. De acordo com o OMP report da American Osteopathic Association, há hoje mais de 135 mil médicos osteopatas em atividade nos Estados Unidos, versus cerca de 70 mil Quiropraxistas (o IBISWorld relata que no último ano tivemos um crescimento pífio de 1,2%).

Tanto a Quiropraxia como a osteopatia deslancharam no Brasil na década de 90. Há quase 1300 Quiropraxistas formados e aproximadamente 3.000 osteopatas por aqui.

Estas modalidades são bem-vindas. Luís Eduardo Munhoz da Rocha, do Comitê de Coluna da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Coluna “afirma que os tratamentos pouco invasivos têm indicações pontuais, e (…) é (saudável) mudar hábitos e fortalecer a musculatura que sustenta a coluna” (www.notícias.uol.com.br, 15/05/12).

Para Joel Augusto Ribeiro Teixeira, então neurocirurgião coordenador do centro de terapias minimamente invasivas da coluna do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, cirurgia deve vir em último caso, “depois de terapias conservadoras, como (…) fisioterapia”.

“O importante é quebrar o ciclo da dor e corrigir a postura, afirma o médico fisiatra João Amadera, do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo.

Todos de acordo, então?