Controverso até nos dias de hoje, Charles Darwin (1809-1882) foi o divisor de águas da ciência moderna. Sua tese sobre a evolução pela seleção natural ainda causa discussões acaloradas mesmo depois de mais de 170 anos da publicação da sua obra máxima A Origem das Espécies.

A teoria foi postulada após uma viagem a bordo do Beagle, um navio de exploração científica que percorreu quatro continentes entre 1831 e 1836, entre eles a América do Sul. Sim, Darwin passou um período no Brasil, particularmente no Rio de Janeiro e Bahia. Se deslumbrou com a biodiversidade de Mata Atlântica, mas se horrorizou com a indolência das classes abastadas e o tratamento dispensado aos escravos. Nas Ilhas Galápagos ele encontrou o que procurava. As diferenças entre espécies de uma ilha para outra faziam daquele local o laboratório ideal para suas pesquisas. E assim este naturalista inglês revirou a Ciência da época ao avesso (VEJA, 11/02/2009).

Não pensem vocês que trazer suas descobertas a público foi fácil para Darwin. Não foi. Ele sabia que suas ideias eram explosivas e do tipo de reação que causaria na Inglaterra Vitoriana do século XIX. Sua esposa, Emma, sofreu muito com isso. Na sua visão, elaborar uma teoria que ia contra os dogmas da Igreja e os ensinamentos bíblicos significaria uma passagem certa e sem volta do seu marido para o inferno. Se Darwin não se arrependesse daquele “modismo”, cometeria um pecado mortal e o casal ficaria separado após a morte — já que iriam para lugares, digamos assim, opostos. Por todos estes motivos, Darwin relutou muito antes de finalmente publicar sua obra, o que acabou fazendo 21 anos depois de escrita.

A reação foi, naturalmente, devastadora. Lembrem-se que nesta época a maioria dos cientistas acreditava que a Terra não tivesse mais de 6.000 anos de existência; que os fenômenos da natureza fossem uma manifestação divina; que os dinossauros eram as criaturas que ficaram de fora da Arca de Noé. A Igreja ficou perplexa. Darwin levou muita bordoada antes de suas teorias terem a aceitação (relativa) de hoje.

Muita gente ainda se equivoca quando fala de Darwin. Um dos erros mais frequentes é achar que o naturalista inglês afirmava que o homem vinha do macaco. Ele nunca disse isso. O que Darwin postulava era que o homem, bem como o macaco, vinham de um ancestral em comum. Outro erro muito frequente é chamar a seleção natural de “sobrevivência do mais forte”. Hitler seguiu esta linha de raciocínio para justificar o extermínio de judeus, homossexuais, ciganos e excepcionais. Mas Darwin também nunca disse que os mais fortes sobrevivem, e sim os mais adaptados a um determinado ambiente.

A frase em inglês “survival of the fittest” talvez seja a responsável pela confusão. O superlativo “fittest” pode significar “o que está mais em forma” — que certamente dá uma ideia de força. Mas, na verdade, o contexto de “fittest” da frase de Darwin tem a ver com aptidão, adaptabilidade. A tradução correta, portanto, seria “sobrevivência do mais apto”, de quem tem a capacidade de adaptar-se às mudanças de um ambiente.

E é justamente este processo de adaptabilidade que nos leva a comentar sobre o tópico do nosso artigo. O que, afinal de contas, seria saúde? Seria meramente não ficar doente? De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), “é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”. Mas uma pessoa saudável necessita ter adaptabilidade. Como?

Considerem, por exemplo, uma criança que contrai uma gripe e espirra numa sala de aula cheia de coleguinhas. Apesar de todas terem sido expostas ao vírus, somente algumas ficarão gripadas. É que, no momento do contágio, o sistema imunológico de cada criança que estava funcionando apropriadamente combateu o vírus. Os que estavam enfraquecidos, não. Ou seja, quem se adaptou, se safou. Doença, portanto, envolve inadaptabilidade.

O mesmo conceito pode ser aplicado a coluna vertebral. O grande trunfo da Quiropraxia não é oferecer uma “cura definitiva” para problemas de coluna. Não há milagres. O que proporcionamos é um proverbial “jogo de cintura” (sem trocadilhos!) para lidar com situações diversas. Se a coluna está funcionando bem biomecanicamente; se as vértebras possuem movimento articular adequado uma com a outra ou como um todo, sem fixações, restrições (e porque não dizer, subluxações); então há adaptabilidade para adequar-se a qualquer mudança de ambiente. Jogar uma pelada, pegar peso, dormir em camas diferentes, se estressar ou se aborrecer — nada disso terá efeitos nocivos sobre uma coluna saudável. E adaptação é a chave para alcançar tal façanha. Uma coluna adaptável é uma coluna feliz. Se isto não for darwinismo puro, este que vos escreve não sabe o que é.

Afinal de contas, se aquele pequeno grupo de Australopitecos não tivesse a coragem de descer das árvores e a adaptabilidade para caminhar pelas savanas africanas, não haveria eventualmente o Homo Sapiens. Não era isso que Darwin queria dizer?