Este artigo, escrito há alguns anos e repaginado para este post, é uma homenagem a Lilian Aliberti, DC, CSPP, CACCP — pela sua excelente palestra durante o VII Congresso Brasileiro de Quiropraxia.

Gerar e carregar uma vida durante nove meses é um período mágico para uma mulher. Entretanto, uma dor inesperada na coluna pode jogar uma toalha molhada nesta sensação tão indescritível. A lombalgia gestacional é uma queixa comum na gravidez. Estima-se que cerca de 50% a 70% das gestantes apresentam dores nas costas, especialmente na região lombar.

Obviamente, ocorrem várias mudanças no corpo feminino durante a gestação. O útero cresce e arredonda o abdome. A posição do sacro das barrigudinhas modifica-se e fica mais horizontalizada em relação à pelve. Com o centro de gravidade deslocado, há necessidade de modificar a postura e de alterar as curvaturas fisiológicas da coluna vertebral. E é exatamente o que acontece — com aumento da lordose lombar (há também um aumento da cifose torácica para acomodar e compensar o crescimento das mamas).

Existe uma explicação muscular para este tipo de dor durante a gravidez. A hiperlordose causa sobrecarga na musculatura lombar e posterior da coxa. O estiramento dos músculos abdominais faz com que estes percam sua ação estabilizadora da pelve. Causam, portanto, mais contratura dos músculos paravertebrais. Contudo, esta hipótese biomecânica não goza de consenso no meio científico. Afinal de contas, um terço das gestantes com dores na coluna relatam senti-las durante o primeiro trimestre. E, neste período, não existem mudanças biomecânicas expressivas. Há outro motivo, então?

Há. Um componente hormonal. Estrogênio, progesterona e relaxina causam um crescente afrouxamento dos ligamentos. Esta última (produzida pelo corpo lúteo e pela placenta) ajuda a distender o útero à medida que o bebê cresce. Causa também retenção de água e “amolece” as articulações pélvicas e suas cápsulas articulares. Portanto, a estrutura de todo o sistema musculoesquelético é potencialmente afetada.

A intenção é proporcionar flexibilidade necessária para o parto. Relaxina provoca o remodelamento do tecido conjuntivo, o que diminui a união dos ossos da pelve, alargando o canal de passagem do feto. Não é difícil de imaginar que este processo causa instabilidade no quadril e na pelve. Se já existe algum problema antigo, é como juntar a fome com a vontade de comer. De fato, a região lombar não é exclusiva. As barrigudinhas relatam dores em toda a região pélvica, como na sínfise púbica (77%), na virilha (53%), nas articulações sacro-ilíacas (42%) e no cóccix (33%).

As causas biomecânicas e hormonais se convergem mais ou menos a partir do 5° mês de gestação. A maioria dos casos de lombalgia ocorre neste período.

De acordo com o artigo Lombalgia e Gravidez (Cecin et. al.), publicado na Revista Brasileira de Reumatologia (1992; 32(2): 45-50), o risco relativo em gestantes em apresentar dores nas costas é quase 14 vezes maior que o de mulheres não grávidas. Isto prejudica a qualidade de vida, causa insônia, dificuldade para andar e até depressão.  Muitas vezes persistem por meses após o parto. E 20% das que passaram por isto continuarão a sentir dores indefinidamente. O que fazer?

O mesmo estudo afirma que mulheres com melhor tônus muscular têm menor risco de apresentarem lombalgia gestacional. E que, praticar exercícios físicos ANTES da gravidez é de suma importância.

Vale tudo para sentir-se bem nesta fase tão especial: exercícios orientados, Pilates, R.P.G., acupuntura, natação, hidroginástica e até massoterapia. Quiropraxia, com algumas adaptações, pode ser feita tranquilamente até o 9° mês. Todas estas modalidades têm obtido bons resultados para aliviar as dores das barrigudinhas. Anormal, caros leitores, é sentir este tipo de dor durante a gestação. Algum incômodo, talvez. Mas dor, não.

A gravidez é uma fase maravilhosa que merece ser vivida com o máximo de conforto e qualidade — e com uma coluna saudável.