O desenho Os Simpsons, criado por Matt Groening, estreou em 17 de dezembro de 1989. Já está na 31ª temporada com mais de 684 episódios exibidos, e é hoje a série mais longeva da TV americana. O programa tem como hábito esculhambar a tudo e a todos. Claro que não iria perdoar a Quiropraxia. Após algumas menções irônicas de leve no decorrer das temporadas, seria natural, mais cedo ou mais tarde, que houvesse algum enredo que satirizasse a nossa profissão.
Pois bem: o 10° episódio da 12ª temporada, intitulado “Mãe Coruja” (“Pokey Mom“), gira justamente em torno de uma lombalgia que Homer sofreu após machucar-se com um touro bravo durante uma vaquejada na prisão de sua cidade, Springfield. Eis o script (com tradução beeeeeem livre):
CENA 1: Homer, com dor, se consulta com seu médico, Dr. Julius Hibbert.
Dr. HIBBERT: Mas a sua coluna está mais torta do que político!
HOMER: E daí? Cadê meus medicamentos e cirurgia?
Dr. HIBBERT: Gostaria muito, mas para lhe ser sincero, a medicina moderna tem um péssimo histórico de tratar as costas. Gastamos tempo demais na frente.
HOMER: É mesmo. Tem um monte de coisas boas na nossa frente…
Dr. HIBBERT: Vou indicá-lo para meu Quiropraxista.
HOMER: Pera aí. Eu pensava que médicos não fossem muito chegados a Quiropraxistas.
Dr. HIBBERT: Bem, esta é a nossa posição oficial. Mas entre eu, você e meus tacos de golfe, eles fazem milagres.
CENA 2: Homer vai para a clínica do Quiropraxista, Dr. Steve. Ao deitar-se na maca, imediatamente pega no sono. Dr. Steve o acorda.
HOMER: Menos papo e mais estalos.
Dr. STEVE: A gente não “estala” a coluna. Chamamos isso de “ajustamento”. O.K., agora você vai ouvir um estalo bem alto.
HOMER: Ora, ora! Estou me sentindo bem melhor.
Dr. STEVE: Mas é claro que você está. Agora eu só preciso te tratar três vezes por semana por muitos e muitos anos.
CENA 3: Homer sente a coluna de novo ao limpar o quintal. Reclama que o Quiropraxista não aliviou sua dor. Seu filho Bart pergunta se fez os exercícios recomendados. Homer retruca: “Huh?”. Mas aí escorrega e cai de costas em cima uma lata de lixo. Sua dor desaparece, por incrível que pareça.
BART: A lata de lixo deve ter desempenado sua coluna.
HOMER: Isto não é uma “lata de lixo”. Trata-se de um Cilindro Miraculoso do Dr. Homer para Conserto de Coluna. Patente pendendo.
CENA 4: Homer abre uma “clínica” na sua garagem e trata seus “colegas de cerveja” com o “colunacilindro”. Moe, um dos “pacientes”, é o dono do bar.
MOE: Você acha que pode dar um jeito na minha ciática?
HOMER: Eu não sei o que é isso, então vou dizer que sim.
Ele então diz para Moe relaxar, e empurra-o de costas sobre a lata de lixo.
MOE: Funcionou! Minha dor insuportável virou uma leve dormência.
Dr. Steve aparece na área, alerta que a “clínica” não tem alvará, e ameaça veladamente (com as mãos no pescoço de Homer) que “pare de quiropraxicar”. Nosso herói ignora o aviso e continua “tratando” os pacientes. Até o dia em que duas pessoas fazem uma visita na sua garagem (que atende pela alcunha paraguaia de “El Clínico Magnífico”) com um suposto interesse em investir na produção de massa do tal “colunacilindro”. São, na verdade, dois Quiropraxistas. Eles roubam a lata de lixo, amassam-na totalmente com suas colunas de plástico, e batem em retirada. Homer jura vingança. Mas, desconsolado, é confortado por seu amigo (e “paciente”) Lenny, que diz: “Esqueça, Homer. É Quirotown” (satirizando o final do filme “Chinatown” de Roman Polanski). FIM.
Nos Estados Unidos é até engraçado. Mas aqui no Brasil, com a nossa eterna luta contra o charlatanismo, soa meio tragicômico.