Quiropraxista ou não, todo profissional da área de saúde aprende, ainda na faculdade, a raciocinar sistematicamente quando examina um paciente. Estratégias baseadas na experiência do que realmente funciona ou não (heurística) têm pouca valia se não mantivermos nossos olhos e ouvidos atentos ao que o paciente apresenta. Aí, a experiência conta, e muito!
Considere este caso ocorrido há alguns anos em nossa clínica. Márcia (nome fictício), uma senhora na casa dos quarenta anos bem conservados, é uma mulher bastante dinâmica. Além do emprego, cuida da casa e de tudo o mais, já que o marido viaja muito. Neste dia, dona Márcia estava mais atarefada do que o usual. O aniversário de seu marido se aproximava e, perfeccionista, ela queria que tudo saísse perfeito. O nível de estresse, naturalmente, estava a mil. De noite, ao tomar banho, sentiu uma breve e aguda dor-de-cabeça. Logo depois, uma “sensação estranha” no braço direito, que evoluiu para uma dormência. No dia seguinte, consultou um neurologista, que recomendou uma ressonância magnética. Só que da região cervical. Após o final de semana, seu quadro piorou. Começou a apresentar uma certa dificuldade de coordenação nos movimentos da mão, e a sentir dormências no tronco. Quando ela adentrou no consultório, este que vos escreve notou que havia algo ímpar na sua maneira de andar.
As informações acima, extraídas após uma detalhada anamnese e um minucioso exame físico, fizeram este clínico suspeitar algo mais. A cefaleia repentina, seguida de uma parestesia progressiva e evolutiva (tanto no braço, quanto no tronco) com marcha alterada seria razão suficiente para solicitar ressonâncias, não só da coluna cervical, mas também do crânio. E, dito e feito, este e outros exames confirmaram que dona Márcia havia sofrido um pequeno acidente vascular cerebral. Referida de volta ao neurologista, medicada e monitorada apropriadamente, até onde sabemos, não houve sequelas.
Temos que ter know-how suficiente para identificar um problema que não é de nossa área e saber indicar o paciente ao profissional adequado. E experiência conta para poder adquirir este discernimento. Não é preciso ser um gênio da medicina.
Só talento não basta para um profissional de saúde ser realmente bom no que ele faz. É preciso praticar, praticar, e praticar sempre. Thomas Alva Edison (1847-1931), empresário americano com mais de 1.300 inventos patenteados (entre eles a lâmpada elétrica) dizia que a fórmula do sucesso era “1% de inspiração e 99% de perspiração”. Geoff Colvin, autor do livro Talent is Overrated, sustenta que o talento pessoal não é assim tão determinante para explicar o nível de excelência que algumas pessoas alcançaram em suas áreas. Malcolm Gladwell, escritor do terceiro capítulo de Fora de Série, a História do Sucesso, publicado nos Estados Unidos com o título de Outliers, afirma que, “para se tornar um grande mestre do xadrez, são necessários dez anos. O que são dez anos? Bem, é mais ou menos o que leva para obter 10 mil horas de prática. Dez mil horas é o número mágico da grandeza” (ÉPOCA, 24/11/2008). Na ponta do lápis, esta tese das 10 mil horas significa 20 horas por semana por dez anos. Ou 40 horas por semana em cinco anos. E parece ter fundamento.
Psicólogos realizaram uma pesquisa com alunos da Academia de Música de Berlin na década de 90 e os dividiram em 03 grupos. Os violinistas excepcionais, os bons e os medíocres tinham respectivamente 10 mil, 8 mil e 4 mil horas de prática. “A coisa mais chocante do estudo”, diz Gladwell, “é que não se descobriu um único músico que brilhasse sem esforço, com uma fração da prática de seus colegas”.
Entretanto, Colvin alerta que prática e experiência são duas coisas bem diferentes. Uma pessoa pode fazer pizza por 20 anos e ainda assim fazer pizza ruim. Não. O segredo parece estar em aprender bem e praticar com afinco. E, se feito desde criança desta forma, então, excelência pode ser alcançada. Vide Michael Jackson, Serena e Venus Williams, Roberto Carlos, Zezé Di Camargo & Luciano, Mozart, entre outros. Todos têm em comum o fato de terem começado a praticar cedo, ainda meninos ou meninas.
De acordo com Gladwell, quando talento encontra experiência somada ainda a uma pitadinha de oportunidade e circunstância, o mundo produz gigantes como Bill Gates, Albert Einstein, Pelé, Machado de Assis, Madonna, Luiz Gonzaga, Michael Jordan, os Beatles, e até Mark Zuckerberg e Jeff Bezos! Para nós, Quiropraxistas, significa fazer nosso trabalho corretamente e bem — e excelência, logicamente, chegará.
Desempenho e performance são diretamente proporcionais ao esforço e à prática. Nada substitui a experiência, o trabalho, o estudo e a dedicação. Dona Márcia que o diga.