É muito comum mulheres com problemas de coluna sentirem exacerbação das dores durante o período pré-menstrual ou durante a menstruação. Uma possível e plausível explicação é que as cólicas menstruais causariam maior contração da musculatura lombopélvica — o que aumentaria a carga numa estrutura já um tanto quanto fragilizada.
Porém, o desconforto lombopélvico de aproximadamente 10% das mulheres em idade reprodutiva (seis milhões só no Brasil) não tem nada a ver com a coluna. A causa é a endometriose.
Para entendê-la, convém revisar um pouco a anatomia feminina.
O endométrio é um tecido especializado que existe dentro do útero. As células endometriais se descamam durante a menstruação e se reconstituem a cada novo ciclo menstrual. Ocorre que este tecido, às vezes, se aloja de forma patológica em outros locais do corpo humano por via das tubas uterinas: nos ovários, face posterior do útero, bexiga, ligamento uterossacro, e até no revestimento da cavidade pélvica (peritônio) e na superfície externa do útero e intestinos. Este material pode ser encontrado também no fígado, vulva, vagina, apêndice, diafragma, rins, regiões inguinais, colo do útero e cicatrizes cirúrgicas. Nos casos mais extremos, nos pulmões ou até no cérebro.
Curiosamente, e por algum motivo desconhecido, é raríssimo o baço ser afetado.
Este crescimento desordenado pode assumir a forma de implantes, nódulos ou tumores — mas sempre benignos. E sob influência de oscilações hormonais. A causa exata da endometriose é desconhecida. Mas ocorre em mulheres inférteis (30% a 60%). Estima-se que para cada cinco mulheres que estejam tendo dificuldade para engravidar, duas sofrem deste mal. A idade média varia entre 25 e 30 anos – e pode ser genético.
A endometriose não é transmissível, mas é imprevisível. Há quem acabe apelando para uma laparoscopia, laparotomia ou até histerectomia.
Dores lombo-pélvicas crônicas não são os únicos sintomas. Micções dolorosas, dismenorreia, desconforto abdominal e dispareunia (dor logo após ou durante a relação sexual) são também frequentes. Claro que estas dores crônicas podem causar cansaço, insônia, alterações de humor, depressão e tensão pré-menstrual. Daí a importância de uma detalhada anamnese.
Os sintomas variam de acordo com a localização, estágio da doença, tipo de lesão e grau de invasão. Mas, sendo a cavidade pélvica a região mais afetada, e, ainda por cima, associada ao ligamento uterossacro, pode causar a chamada algia pélvica crônica não-cíclica – ou dores na bacia, pura e simplesmente. No entanto, este tipo de dor pélvica só ocorre nos estágios mais avançados da doença.
O exato mecanismo de como endometriose causa dores pélvicas ainda é meio controverso. Não existe consenso, somente teorias. Inflamação, pressão, aderências, envolvimento neuronal, aumento da produção de prostaglandinas e até fatores psicológicos são algumas das hipóteses.
Parece até exagero (e talvez até seja), mas algumas fontes (citadas no livro Endometriose: Uma Visão Contemporânea de Maurício Simões Abrão, Editora Revinter. RJ. 2000) sugerem que entre 30% a 50% de mulheres com dores na bacia podem apresentar algum grau de endometriose (confirmada por laparoscopia).
“Em estudo realizado com pacientes sem doença aparente e com dor pélvica, evidenciaram-se 50% de microfocos de endometriose presentes em biópsias realizadas em ligamentos redondo, uterossacro e fundo de sacro posterior”.
Se houver validade nestas afirmações, o quadro então é endêmico. E merece uma atenção maior por parte de nós, Quiropraxistas.
Felizmente, o Brasil vem se firmando como um centro de excelência para tratamento e pesquisa desta enfermidade, e é atualmente um dos países que mais contribuem cientificamente para otimizar o diagnóstico e o tratamento da endometriose.
Por muitas vezes imitar direitinho um problema de coluna, esta afecção pode ser meio elusiva. Um Quiropraxista mais atento deve estar preparado para reconhecer prontamente os sinais e sintomas da endometriose e indicar a paciente com este problema para um ginecologista.
Senão estaremos tratando gato por lebre.