Há dois tipos de curvas fisiológicas na coluna vertebral do ser humano: as cifoses e as lordoses. As cifoses torácica e sacral são curvas posteriores formadas ainda na fase fetal. As lordoses cervical e lombar são curvas anteriores desenvolvidas, em parte, quando engatinhamos. Estas quatro curvas servem para construir na coluna um mecanismo de amortecimento, funcionando assim como uma espécie de mola.
O problema é quando ocorre exagero ou diminuição das lordoses e cifoses, ou ainda quando surge uma curva lateral (e tridimensional) que não estava no script e que definitivamente não é fisiológica: a tão famigerada escoliose.
A escoliose é quase tão antiga quanto a humanidade. Foi mencionada até em pinturas rupestres, datadas há mais de 10.000 anos. Mas a pessoa que batizou esta curva lateral foi ninguém menos do que o próprio pai da medicina. Hipócrates usou uma palavra grega — skoliosis — que quer dizer “torto”.
Como alguém se torna uma pessoa “escoliótica”? Causas podem existir ou não. Subdivisões, no entanto, existem várias — por origem, por faixa etária, e por forma & função:
A escoliose adolescente idiopática é a mais comum de todas. Ela, como o nome diz, não tem causa definida. Nesta escoliose, a rotação das vértebras (com os processos espinhosos) é para o lado côncavo da curva, causando as costelas ficarem proeminentes do lado da convexidade.
É típico da escoliose idiopática do adolescente “as vértebras girarem para o lado da concavidade” — por sua vez “gerando a gibosidade das costelas contralateralmente”, de acordo com Dr. Douglas Hora, proprietário da Clínica Larmonie e Diretor Regional da Associação Brasileira de Quiropraxia.
A curva na região torácica teria que ser destroconvexa nas escolioses idiopáticas. Já 65% das curvas na região lombar são sinistroconvexas. Pode existir uma causa genética, sendo transmitida de pai para filha, ou de mãe para filha ou filho. Talvez por isso, as meninas são as mais afetadas.
As escolioses idiopáticas se subdividem em três tipos:
A progressão da curva pode ser exponencial e atingir um ritmo de 3 a 5 graus por mês. Nestes casos, consideramos a escoliose como progressiva. Quando há aumento de menos de 5° ao ano, ela é considerada não-progressiva. Tipicamente a maior parte do crescimento nas meninas vai até os 16 anos. Já nos meninos, o crescimento tende a continuar por mais 18 meses. Enquanto houver crescimento, há maior possibilidade de progressão da escoliose.
A melhor maneira de constatar a maturidade óssea é analisar o SINAL DE RISSER nas radiografias da região pélvica, que consiste em observar se houve calcificação completa das placas de crescimento da crista ilíaca. A maturidade óssea pode significar menor progressão da curva.
Ainda assim, contrário do que se acredita, a escoliose CONTINUA a progredir após o adolescente atingir a fase adulta, só que em menor escala (contanto que a curva esteja abaixo dos 30 graus).
As escolioses podem ser subdivididas ainda em estruturais ou funcionais.
Contrário da escoliose estrutural, a funcional responde relativamente bem à tratamentos conservadores como fisioterapia (R.P.G.), Pilates, e Quiropraxia. Quando a origem é por antalgia então, a regressão da curva nesses tratamentos tende a ser muito mais dramática. Porém, ainda há discordância sobre classificar escolioses baseado somente na curva lateral. Alguns autores sugerem o modelo tridimensional, mais confiável
A maneira mais comum e confiável de medir as escolioses é pelo MÉTODO DE COBB. As curvas menores de 20° respondem muito bem a tratamento conservadores. Entre as de 20 a 40 graus, a Sociedade Brasileira de Ortopedia recomenda uso de colete corretivo de postura. O mais comum é o colete de Milwaukee, desenvolvidos por Blount e Schmidt ainda na década de 50, e aperfeiçoada ao longo dos anos. A recomendação é usá-lo por 23 horas diariamente. A partir dos 40°, intervenção cirúrgica começa a ser considerada, a depender da idade do paciente e da velocidade de progressão da escoliose.
Alguns profissionais recomendam o uso do colete para escolioses abaixo dos 20°. Outros alegam que, apesar de estabilizar a curva DURANTE o uso, ela volta a progredir após o paciente deixar de usá-lo. Um dos efeitos adversos do colete, além de estigmatizar socialmente o adolescente, é a atrofia da musculatura paravertebral, tão necessária para estabilizar a escoliose após a maturidade óssea. Porém, há outros coletes desenvolvidos mais recentemente que são feitos sob medida para o paciente e envolvem exercícios específicos.
A opção cirúrgica consiste de fusão e estabilização da escoliose por meio de uma barra de metal (Harrington Rod) e é envolta em controvérsias. Duas leis de desenvolvimento ósseo são afetadas diretamente com a implantação da barra: a Lei de Wolff (força e pressão afeta a formação óssea), e a Lei de Hulter-Volkman (aumento de pressão nas placas ósseas diminui crescimento). É prudente, porém, deixar um adolescente de 14 anos conviver com uma escoliose acima dos 40°? Este tipo de deformidade óssea afetará somente a estética, ou haverá comprometimento pulmonar ou até cardiológico? Os danos que uma cirurgia indubitavelmente irá causar à biomecânica, ao bem-estar e à qualidade de vida daquele paciente compensarão os riscos de deixar aquela escoliose evoluir para 40, 50, ou até 60 graus?
O tratamento convencional da escoliose, recomendada pela Sociedade Brasileira de Ortopedia, é usar colete 23 horas ao dia, só tirando para tomar banho. Mas não há um consenso de qual seria o tratamento definitivo para a escoliose.
Felizmente existem vários tratamentos conservadores para ajudar a conter a progressão da escoliose, principalmente as com menos de 20°:
Terapias como estas, ditas “alternativas” têm obtidos resultados satisfatórios, maximizadas pela força de vontade do adolescente e visão a longo prazo dos pais.
Tratamentos conservadores ajudam, mas não necessariamente impedem a progressão da curva. Nem os coletes. Cirurgia, por sua vez, impede a progressão da curva mas limita severamente o paciente.
Quaisquer que sejam os tratamentos, é necessário acompanhamento com exames radiográficos de 02 a 04 vezes por ano (a depender do caso) para observar a evolução da escoliose.
No surto do crescimento do pré-púbere, a chave da questão é o que chamamos de “contenção de danos”. O objetivo é reduzir a progressão da curva durante este período, se possível até freá-la. Mas é aceitável (até um certo ponto) a progressão de 1 grau / mês até que este surto diminua e a curva se estabilize, podendo até haver uma regressão posteriormente.