No momento em que o paciente entra na sala, o clínico começa a observá-lo. A avaliação tem início a partir daí. O clínico considera também possibilidades que explique a queixa principal em termos de idade, sexo, profissão e hábitos pessoais. Só então estará apto para iniciar a Anamnese. Esta entrevista é o prelúdio para o exame físico. O profissional deve usá-la para obter o maior número possível de informações pertinentes ao problema que potencialmente aflige o paciente.

Perguntas são feitas sobre quando e como surgiu a dor; localização; intensidade (forte? média? fraca?); tipo (queima? lateja? aguda? pesada?); o que piora ou melhora; e se há irradiação para algum outro lugar. Isto é tipicamente chamado de oito parâmetros — o alicerce de qualquer anamnese. E também o seu ponto de partida.

Sim, porque uma boa anamnese vai muito além dos oito parâmetros.

  • Quanto à Queixa Principal, a descrição das dores pode ser vaga. Cabe ao profissional ser bem inquisitivo e perguntar com mais detalhes —  mesmo que, às vezes não agrade muito ao paciente. Ajuda muito solicitar onde está localizada a dor e a exata distribuição para o membro afetado, se for o caso. Locais de parestesia (dormência) devem ser também indicados. Isto ajuda a localizar o envolvimento da raiz nervosa nas dores irradiadas.

    Dores de origem visceral raramente afetam abaixo do joelho.

    A natureza da dor do paciente também é importante. Uma dor surda, “travada”, pode ser de natureza muscular. Deve o profissional considerar talvez possibilidade de doenças neurológicas que tendem a imitar problemas de coluna, tipo Parkinson ou Esclerose Lateral Amiotrófica? E quando a dor é aguda, hérnia de disco? Ou se houver origem visceral?

    Como começou? Como vem se desenvolvendo? Que tipos de tratamento o paciente já fez? Se necessário, investigar histórico médico e cirúrgico, bem como reiterar-se dos hábitos pessoais.

  • E o Início? Dores recentes são consideradas agudas. Dores que ocorrem por meses ou anos são crônicas. As agudas podem ser por fratura, hérnia de disco, ou até por ruptura de algum aneurisma abdominal. As crônicas podem ter origem visceral ou mecânica — por irritação da raiz nervosa, estenose, escoliose, ou hérnia de disco.

  • Exacerbação é o que faz a dor piorar. Remissão é o que faz a dor melhorar. Dor com movimento é típico de problemas neuro-músculo-esqueléticos. Dor ao caminhar pode estar relacionada com disfunção sacro-ilíaca, estenose lombar e bursite trocantérica. Sentar aumenta pressão intradiscal, piora as dores associadas à hérnia de disco, mas caminhar pode até aliviá-las. Deitar alivia dores mecânicas, mas piora as dores inflamatórias como artropatias. Tossir e espirrar aumentam a pressão intradiscal e são associadas à hernia de disco, tumores intra-medulares, ou até distensão muscular. Sentir dores torácicas somente após comer pode significar pedra na vesícula?

  • O clínico deve ficar atento ao Ciclo. Dores ao acordar pela manhã podem ser causadas por espondilite anquilosante, hiperostose, hérnia de disco e estenose. Note que o ato de dormir de barriga para cima com as pernas retas arqueia a coluna lombar e pode causar também dores matinais. Dores que pioram ao decorrer do dia são relacionadas com síndrome das facetas e hiperlordose lombar.

  • Ao considerar o Histórico Médico, doenças ósseas metabólicas e diabetes tendem a ter um efeito direto nas dores lombares. Cirurgias da região abdominal como cesáreas, apendicectomias ou histerectomias enfraquecem a musculatura e podem causar um relativo aumento da lordose lombar. Existe possibilidade de tumores malignos ou pedras nos rins? A existência de escamas no cotovelo pode ser sinal de psoríase? O paciente sofre de problemas gastrointestinais e geniturinários? Há possibilidade de neuropatia diabética? Dores nas costas causadas por tossir e espirrar em excesso poderiam ser por bronquite ou rinite alérgica? Sabe-se que o uso prolongado de corticoides e antiácidos, bem como a extração dos ovários, podem predispor à osteoporose. Isto se aplica ao paciente?

Após completar a anamnese, o clínico estará pronto para o próximo passo. Sua obrigação é fazer doravante um bom exame físico para chegar a uma hipótese diagnóstica apropriada (com a ajuda dos exames complementares). A partir daí, tentar resolver pra valer o que realmente aflige o paciente.

Simples assim.