As raízes nervosas que saem dos forames intervertebrais da 5ª vértebra cervical até a 1ª vértebra torácica formam o plexo braquial. Este emaranhado de nervos localiza-se entre o pescoço e a axila e tem como função comandar os movimentos dos membros superiores e assegurar inervação sensitiva dos mesmos.
Do plexo braquial originam-se três nervos principais: radial, ulnar e mediano. Este último é o segundo maior do plexo braquial. Só perde para o nervo radial.
O nervo mediano entra no braço medialmente e bem no lado lateral da artéria braquial. Percorre assim toda a diáfise do úmero. Logo antes do cotovelo, atravessa para o meio, ganha a parte volar do antebraço até chegar ao pulso. A partir daí, é preciso passar debaixo do retináculo dos flexores — uma espécie de faixa fibrosa.
Também conhecido como ligamento transverso carpal, o retináculo compõe o teto do túnel do carpo (os ossos hamato, capitato, trapézio e trapezóide formam a base). Além disso, o retináculo adere aos ossos pisiforme, hamato, navicular e trapézio. Esta informaçãozinha terá grande significado para entender a mecânica da Síndrome do Túnel do Carpo, que veremos adiante.
Por este túnel, passam nove tendões responsáveis pela flexão dos dedos e mais o nervo mediano. Este último divide-se então em ramos superficiais e profundos que terminam nas pontas dos dígitos, exceto pelo mindinho.
O nervo mediano é o grande flexor do antebraço, além de inervar também quase todos os flexores profundos das mãos e dedos (exceto pelo flexor ulnar do carpo e o aspecto medial do flexor digital profundo, comandados pelo nervo ulnar). É responsável também pela musculatura pronadora do antebraço e abdutora do polegar.
A abdução do polegar foi imprescindível para manusearmos ferramentas. Portanto, a evolução humana deve muito ao mediano. Não é à toa que danos neste nervo causam uma deformidade conhecida como “mão de macaco” — a pessoa não consegue mover direito o polegar.
O mediano também supre os vasos sanguíneos da mão e a sensibilidade dos ¾ laterais da superfície da palma da mão, incluindo aí a pele dorsal e a fáscia das falanges distais e unhas, e todos os polegares, indicadores, médios e a face interna dos anelares.
O dedo mindinho e o restante do anelar são de responsabilidade do nervo ulnar.
Se houver ruptura do nervo mediano ao nível do cotovelo ou braço, pode gerar uma condição em que a mão assume uma posição como se fosse dar a bênção. Mas o problema de longe mais comum é a compressão que ocorre no canal do carpo.
Esta Síndrome do Túnel do Carpo é a mais comum neuropatia da mão. Atinge mais mulheres do que homens. A faixa etária preferida é entre 40 e 60 anos de idade. Tipicamente a mão atingida é a dominante, mas não é incomum as duas desenvolverem o problema. Os sintomas são dormência e formigamento na mão, sobretudo no dedo indicador, anelar e médio. A pessoa sente mais no período noturno e sente dificuldade de agarrar um objeto. Pode até sentir choques e evoluir para todo o membro superior.
Alguns fatores podem contribuir para seu surgimento, como trauma (fratura de Colles), gravidez, diabetes, obesidade, doença renal, artrite reumática, osteoartrose, etc.
Síndrome do Túnel do Carpo é uma das manifestações da Lesão por Esforço Repetitivo (Ler/DORT). Qualquer mecânico, carpinteiro, açougueiro, digitador, caixa, motorista, escritor, costureiro, músico, atleta (ciclista, ginasta e levantador de peso), massagista, secretária, fisioterapeuta e até Quiropraxista pode ser afetado por este mal.
Diagnostica-se por eletroneuromiografia e por teste ortopédico (Phalen e Tinel). Fisioterapia, reabilitação, alongamento e mudanças na dieta (menos nicotina e mais vitamina B) são grandes ferramentas para reduzir os incômodos desta doença.
Qualquer disfunção biomecânica dos ossos carpais descritos acima pode afetar ainda mais o nervo mediano. Neste caso, manipulação específica (Quiropraxia) nestes ossos e, seguindo o percurso do nervo, no cotovelo, ombro e pescoço, pode surtir uma diferença tremenda no tratamento da Síndrome do Túnel do Carpo. A recuperação tende a ser mais rápida e os resultados, mais duradouros.
Mas, frise-se, o tratamento multidisciplinar é bem mais eficaz. A união faz a força (neste caso, melhor dizendo, a união devolve a força).