Adam Lerner faz tudo certinho na vida. Cuida da sua alimentação. Não fuma. Bebe pouco. Tem uma namorada meio chatinha. Trabalha como jornalista numa estação de rádio tipo Cultura. Exercita-se regularmente.
Mas tem notado que, ao correr, sua coluna dói. Começou como um incômodo. Depois evoluiu para uma dor fraca. Mas agora está se tornando mais forte. Resolveu então fazer uma visita de rotina com um neurologista.
O médico pediu logo de cara uma ressonância magnética. No retorno, sem nem olhá-lo nos olhos, como se estivesse lendo um livro, recitou o diagnóstico: schwannoma neurofibrosarcoma.
Este tipo de câncer, explicou o neurologista, é geralmente benigno. As células do tipo Schwann produz a bainha mielínica, espécie de “material isolante” que cobre os nervos periféricos. Frio e didaticamente, o profissional continuou: o problema é que 1% destes tumores tornam-se maligno — os neurofibrosarcomas. O câncer, portanto não está dentro do nervo, mas em redor dele. Mas, se cresce muito, comprime-o contra alguma estrutura óssea, causando dor, dormência ou até paralisia. Por isso, não indicava cirurgia inicialmente. O melhor era entrar na quimioterapia. E logo.
O pobre do Adam Lerner entrou com consultório achando que estava com dores de coluna. Saiu, em estado de choque, com algo muito pior.
Nós, como Quiropraxistas, precisamos estar muito atentos a isso. Mesmo sendo mais exceção do que regra, dores de coluna causadas por neoplasias podem aparecer de vez em quando. E como nossa profissão envolve terapia manual, o ajustamento pode prejudicar o paciente. É importante, portanto, detectar, identificar e indicar — ainda que não se defina um diagnóstico inicial.
Alguns anos antes, um paciente chegou na clínica assim: dores lombares irradiando para as pernas. Inicialmente houve a suspeita de estenose lombar, mas havia uma série de sinais e sintomas atípicos que justificavam requisição de imagens. De acordo com as incidências abaixo, era até um milagre que ele estivesse andando…

Mas, visto a atitude do médico do filme, como dar essa notícia ao paciente humana e compassionadamente?
Voltando a Adam, este personagem é o alterego do roteirista americano Will Reiser. Ele foi diagnosticado aos 27 anos com um raro tipo de câncer. Tratou-se e curou-se. Inspirou-se em parte nas suas experiências para escrever o roteiro de 50% (50/50, 2011). Por incrível que pareça, o filme é uma comédia. Sim, essa linha tênue poderia ter dado muito errado, mas conseguiram a proeza de, por mais incrível que pareça ainda, fazer rir.
Parte do motivo é a inspirada e tocante atuação do hoje meio sumido Joseph Gordon-Levitt. Este ator por um tempo fazia um bom filme atrás de outro. Começou sua carreira bem cedo, ainda pré-adolescente, no sitcom 3rd Rock from the Sun (1996–2001). Naquele seriado, interpretava o decano de um grupo de alienígenas que se disfarçavam de humanos para entender os terráqueos. Era uma comédia de costumes encabeçada pelo grande ator John Lithgow (O Mundo Segundo Garp e Footloose – Ritmo Louco).
Gordon-Levitt interpretou um rapaz recuperando-se de uma desilusão amorosa de um malfadado romance em (500) Dias com Ela (2009); o amigo e parceiro fiel de Leonardo diCaprio em A Origem (2010); Robin em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012); e o matador de aluguel que tem que assassinar a si próprio mais velho em Looper: Assassinos do Futuro (2012). Ainda encontrou tempo no mesmo ano para fazer o papel de um ciclista no improvável (e eficaz) suspense Perigo por Encomenda (Premium Rush, 2012). Tem feito seu nome como competente ator. Mas depois de 2016, foi rareando os papéis e atualmente anda de fato meio sumido.
Não menos talentoso é Seth Rogen, que faz seu melhor amigo Kyle. Fez sucesso n´O Virgem de 40 Anos (2005), Ligeiramente Grávidos (2007), no semi-autobiográfico e politicamente incorreto Superbad: É Hoje (2007) – que também escreveu, Pagando Bem, Que Mal Tem? (2008) e interpretando a si mesmo no apocalíptico É o Fim (This Is the End 2013), o sucesso-surpresa no verão americano de 2013 — co-escrito por ele. Apesar de algumas derrapagens, como no Besouro Verde (2011), Rogen tem se firmado como um dos melhores comediantes da sua geração — apesar de ultimamente ter feito papéis secundários em O Artista do Disastre (The Disaster Artist, 2017) e Os Fabelmans (2022). Porém, na minissérie Pam e Tommy (2022), foi indicado pela primeira vez como ator coadjuvante no Emmy e Globo de Ouro.
Pois é. Rogen convenceu seu colega Will Reiser a escrever sobre sua experiência e conseguiu transformar um drama numa comédia. “Nós trabalhamos com Will em Da Ali G show, e foi logo depois que descobrimos que ele estava doente. (…) Tão chocante, triste, confuso e basicamente bagunçado como tudo era; não podíamos ignorar isso porque éramos tão mal preparados pra lidar com a situação, coisas engraçadas continuavam acontecendo. Will melhorou, e quando isso aconteceu, achamos que o melhor jeito de tirar algo de bom dessa situação seria colocá-lo pra escrever um roteiro. A ideia era fazer um filme que seria tão engraçado, triste, e esperamos que tão honesto quanto a experiência pela qual passamos”, relembra. (http://filme-trailer.com)
Os críticos elogiaram e o filme deu lucro: ganhou gerou quase 40 milhões de dólares mesmo com um contido orçamento de oito. Vale a pena conferir.