Recordar é viver…

O periódico The Chiropractic Report, de novembro de 2010 (vol. 24, nº 6), noticiou que particularmente aquele ano havia sido “um ano excepcional para a profissão”. Sim, caros leitores, foram anos bastante proveitosos para a Quiropraxia.

Terminava então a Década dos Ossos e Articulações, estabelecida pela OMS entre os anos 2000 e 2010. O objetivo foi “discutir, combater e prevenir as doenças articulares, além de garantir qualidade de vida” aos que sofrem disso — considerando que dados da época estimavam em um milhão de pessoas que penavam com este mal. E o pior: o problema sugava 25% do orçamento destinado à saúde pública dos países desenvolvidos.

É claro que a nossa profissão entrou de sola naquela jornada. “Quiropraxistas (tinham) sido nomeados para cargos importantes na política de saúde governamental como na Década dos Ossos e Articulações e na Organização Mundial de Saúde”:

  • “Nos EUA, por exemplo, Dra. Christine Goertz, Vice-Chanceler de Pesquisa e Política de Saúde, da Palmer College of Chiropractic (alma mater deste que vos escreve), foi nomeada para fazer parte dos 21 membros do Conselho para o Patient-Centered Outcome Research Institute (PCORI), um importante grupo que vai definir a política para implementação do novo plano de saúde nacional do (então) Presidente Obama”. Em 2019, ela assumiu um mandato de 3 anos como Presidente do Conselho de Governadores do PCORI pelo Controlador-Geral dos Estados Unidos.

    Hoje em dia, como Ph.D, ela é professora em Pesquisa Musculoesquelética no Duke Clinical Research Institute, Vice Chair para Implementação de Inovações da Saúde da Coluna no Departamento de Cirurgia Ortopédica na prestigiada Universidade Duke, Chief Executive Officer do Spine Institute for Quality e professora adjunta no Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da Universidade de Iowa. Ufa!

  • Dra. Deborah Kopansky-Giles da Canadian Memorial Chiropractic College, em Toronto, foi nomeada pela OMS, para ser o 18º integrante do Comitê de Coordenação Internacional — patrocinada pela Década dos Ossos e Articulações”

    Aparentemente, Dra. Kopansky-Giles ainda faz parte deste comitê internacional, é um dos dois representantes canadenses no Conselho da Federação Mundial de Quiropraxia e está ativamente envolvida como pesquisadora no World Spine Care.

  • Houve também um dos nossos que serviu durante 4 anos como Ministro da Saúde em Aruba. Richard Visser, Quiropraxista (e PhD), enfrentou dificuldades para exercer sua profissão no começo. Mas conseguiu sobreviver os mares revoltos da política neste cargo importantíssimo neste pequeno território holandês situado no Caribe (ao largo da costa da Venezuela).

    Hoje em dia ocupa um cargo de Agente Oficial para Aruba no Cubanacan Tourism of Health.

Há mais exemplos, além do mencionado acima:

  • “Novas escolas de quiropraxia foram abertas em grandes universidades no Chile (Universidad Central, Santiago), na Malásia (Internacional Medical University, Kuala Lumpur) e na Suiça (University of Zurich)”.

    Desde então tivemos o privilégio de ver surgir cursos de Quiropraxia em universidades públicas no México, na África do Sul, Turquia, Espanha — e, nos últimos anos, em mais 4 instituições de ensino privadas aqui no Brasil.

  • “A capacidade de realização de pesquisa finalmente alcançou um nível impressionante, especialmente na Europa e América do Norte, fornecendo a base necessária para o sucesso e crescimento futuro. (…) A Dinamarca sozinha produziu mais pesquisas sobre a quiropraxia, em 2010, do que toda a profissão nestes últimos 10 anos”.

    Novas pesquisas que comprovam a eficácia da Quiropraxia continuam e continuarão aparecendo.

Contudo, hoje, talvez até muito mais que 2010, mesmo com 6 universidades e quase 1400 formados, a nossa profissão claudica nas terras tupiniquins. Volta e meia, alguma comissão do Congresso Nacional a põe em pauta de discussão — somente para ser rechaçada por interesses escusos de determinada profissão que quer, aberrantemente, fagocitar a nossa. Essa situação é inédita no Brasil e merece ser investigada mais a fundo. De qualquer maneira, percalços como este permitem que aventureiros saiam por aí se auto-intitulando “quiropratas”. Observamos tais “atividades” aqui mesmo na região cacaueira, em cidades de pequeno-médio porte. Um absurdo e um desserviço à segurança do paciente.

Causa-nos estranheza ver este tipo de comportamento. Para se formar em Quiropraxia nessas únicas 6 faculdades que oferecem o curso (reconhecido) aqui no Brasil, é necessário estudar 05 anos por 10 semestres, assistir a 4.200 horas-aula e ter 270 créditos no currículo. Como um ser humano raciocina que pode exercer uma profissão de tamanha complexidade com cursinhos de finais de semana (alguns totalizando 30 horas)?

Em 2010, contávamos com apenas 500 profissionais reconhecidos e formados atuando no território brasileiro. Hoje encostam nos 1400. Mas, ninguém sabe direito quantos indivíduos se encontram por aí “estalando” a coluna alheia aleatoriamente e sem qualquer especificidade — e o pior: sem nenhum conhecimento de anatomia, radiologia e neurologia. É preocupante.

Em tempo: este artigo, apesar de revisado e atualizado, foi escrito óbvia e originalmente em 2010. E havia no do Chiropractic Report um otimismo velado, talvez. Observe quanta coisa mudou e quanto ainda ficou congelado no tempo… O assunto pede reflexão.