A coluna vertebral, composta por 33 vértebras, é uma verdadeira pilha de ossos. Mas tão bem empilhada que a menor mudança de ângulo de uma delas pode fazer a maior diferença. E para que seja possível adaptarmos à determinadas mudanças, desenvolvemos as chamadas curvaturas naturais da coluna: duas para a frente (lordoses) na região cervical e lombar; e duas para trás (cifoses) na região torácica e sacral. Estas curvas funcionam como uma espécie de mola e, juntamente com os 23 discos intervertebrais, ajudam a absorver impacto.

Deus escreve certo por linhas tortas.

Após conduzirem um estudo com mais de mil pessoas sem dores nas costas, um grupo de ortopedistas ingleses e americanos divulgaram que uma lordose lombar em torno dos 47° (conhecido como ângulo de Ferguson) seria considerada normal. Mas não acontece bem assim.

Toda unanimidade é burra (Nelson Rodrigues).

Indivíduos saudáveis não têm necessariamente ângulos iguais. O grau dessas curvas varia — dependendo do lugar e da raça. As vértebras lombares do caucasiano e do asiático formam um ângulo menor. Já nos índios, nos negros e nos judeus mediterrâneos (povos significativos do Brasil), a lordose lombar aumenta para aproximadamente 53°. Daí o bumbum arrebitado das terras tupiniquins.

Cada qual com seu cada qual.

“É um absurdo achar defeito o que é normal”, alertava Aloysio Campos da Paz, saudoso cirurgião ortopedista do Hospital de Doenças do Aparelho Locomotor (o popular Sarah Kubitschek) em Brasília. Ele afirmava que “existem muitos mitos nessa história de costas retas. (…) Não quer dizer que é certo ser corcunda. Mas um pequeno desvio aqui, outro ali, quase todo mundo tem. E quem ainda não tem, pode vir a ter”.

Função é mais importante do que forma.

De fato, o corpo consegue conviver relativamente bem com os desvios laterais da coluna. Na verdade, somente 5% das dores nas costas são causadas por eles. Os outros 95% são causados pelos músculos. Fazem parte do nosso equipamento de sustentação, mas se contraírem um pouquinho mais, podem pinçar violentamente um nervo. É de suma importância, portanto, que uma vértebra esteja movendo-se sem restrições em relação à outra.

Pedra que rola não cria limo.

Se cessarem os movimentos articulares vertebrais, a capacidade adaptativa do indivíduo é comprometida. Então, qualquer peso ou qualquer estresse terá resultados nefastos para a coluna. Observamos isso em indivíduos que sofriam de dores de coluna ocasionais e, com o passar do tempo, começam a sentir dores frequentes. “Dor nas costas é um mal moderno”, afirma o reumatologista José Knoplich, autor do livro Viva bem com a coluna que você tem e presidente do Centro Brasileiro de Estudos da Coluna Vertebral, em São Paulo (ver resenha do livro no Artigo 129).

A Natureza não precisa de ajuda, basta que não haja interferência, parafraseando B.J. Palmer. Adaptabilidade é saúde.

A vida média atual do brasileiro é de 71 anos. Mas a coluna já começa a exibir sinais de instabilidade aos 30 — quase como se fosse um prazo de validade. E passamos boa parte deste tempo sentados. Isto promove a flacidez e a perda do auxílio muscular da coluna. “Além disso”, completa Koplich, “quando estamos sentados, a pressão sobre as vértebras aumenta 50%” (REVISTA SUPERINTERESSANTE 091, abril de 1995).

Poder esperar sentado, portanto, não é opção viável.

Portanto, caros leitores, ao iniciarem um tratamento de coluna, pensem neste aspecto. Não existe dor mecânica sem causa. O problema percorreu um trajeto longo e demorado para chegar num ponto mais crítico. E, geralmente, levará algum tempo para melhorar.

Roma não foi feita em um dia.

Um Quiropraxista sabe que o corpo terá que se adaptar de volta àquele aspecto biomecânico perdido. É um trabalho de formiguinha. O processo de melhora é lento e gradual. De grão em grão a galinha enche o papo. O importante é ter paciência, saber enxergar a longo prazo e, literalmente, relaxar — largar o osso. Mais cedo ou mais tarde, a coluna irá responder ao tratamento. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Tem que ter jogo de cintura (sem trocadilhos!) para se recuperar.

Devagar se vai ao longe.

Parafraseando Al Gore no documentário Uma Verdade Inconveniente, crise e oportunidade são representadas pelo mesmo símbolo chinês: 危機 ou危机. O tempo presente é o melhor momento para mudar para um estilo menos sedentário e mais saudável de vida.

São os ossos do ofício.