Sair de uma crise de coluna pode não ser muito fácil. Mas difícil mesmo é a disciplina de mantê-la blindada contra a próxima. É por isso que a parte mais importante de um tratamento de coluna é quando a dor diminui e a reabilitação começa. Tal reeducação, obviamente, engloba certas atividades do dia-a-dia.

A vasta maioria dos problemas na coluna vertebral não se origina de acidentes, quedas ou trauma. Postura incorreta é de longe a causa mais comum. Quando nosso corpo é obrigado a passar horas numa determinada posição, seja ela ao trabalhar, assistir televisão, ler ou até ao conversar, o sedentarismo impõe um esforço descomunal nos músculos das costas para manter a coluna ereta. Parece um paradoxo, mas não é. Uma musculatura tonificada não terá problemas para exercer sua função. Mas um músculo enfraquecido encontrará dificuldades. E uma musculatura contraída, ainda mais.

O ato de envergar o corpo para pegar objetos pesados faz um guindaste das costas — e quase sempre causa sobrecarga. Envergar a coluna é parte essencial de uma série de ações, como curvar-se, ajoelhar-se, tocar a testa no chão e prostrar-se. Isto pode gerar uma postura crônica e permanente ao caminhar.

Isso sem falar que outros motivos menos tangentes (como angústia ou ansiedade) podem muito bem provocar uma duradoura tensão dos músculos da coluna vertebral. Dor será o inevitável resultado. E desencadeia um ciclo vicioso. E tem mais: “Alega-se que outra causa para a dor nas costas é a frustração sexual, e o aumento da atividade sexual tem sido sugerido como tratamento”, relata Desmond Morris, zoólogo famoso por seus livros sobre sociobiologia humana.

Entra então em cena o Hospital Israelita Albert Einstein. Fundado em 1955, é uma das instituições da área de saúde mais conceituadas do Brasil. Com cerca de 4.500 médicos registrados, o hospital privado mais moderno da América Latina conta com um arrojado programa de ortopedia e reumatologia. Sua unidade de reabilitação rivaliza o do Sarah Kubitschek.

Seus profissionais da área têm uma deferência enorme pela coluna vertebral. Um dos membros do grupo de coluna do Einstein, o reumatologista José Goldenberg, professor livre-docente da Unifesp, especialista em doenças da coluna vertebral, e autor do livro Coluna Ponto e Vírgula (Editora Atheneu, São Paulo, 126 páginas, 7ª edição), atesta que o grande inimigo da coluna hoje é a “desinformação sobre o tema”.

Além de proporcionar flexibilidade, e de movimentar e sustentar, a coluna tem a função principal de proteger uma estrutura que funciona como canal de comunicação entre o cérebro e o resto do corpo (a medula espinhal), e “tem que ser respeitada e utilizada adequadamente”, afirma Goldenberg. Nossa coluna representa cerca de 40% do tamanho do ser humano.

Ao longo de nossos dias e de nossas vidas, precisamos sentar, levantar, entrar e sair do carro incontáveis vezes. Carregamos sacolas pesadas. Pegamos objetos que caíram no chão. Precisamos da coluna para isso. Por ser tão requisitada, acaba sendo também uma fonte de problemas. Poucas pessoas possuem a consciência corporal para manter a postura correta. Atividades corriqueiras do dia-a-dia, feitas de maneira errada, pode, e muito, prejudicar a postura, e, mais tarde, por tabelinha, a coluna.

Portanto, é legítimo estimar que oito em cada dez pessoas sofram ou vão sofrer de dores na coluna ao longo da vida. Claro que a maioria terá dores transientes, resultado de uma noite mal dormida, esforço acima do normal ou de vícios posturais. “Mas, se forem intensas e repetitivas, merecem a atenção de um especialista”, esclarece Goldenberg. Ele enumera alguns fatores de risco:

  • EXCESSO DE PESO: “É o maior inimigo da coluna. (…) ao aumentar 10 quilos do peso adequado, o risco para a coluna aumenta em 25%”.

    Excesso de peso prejudica, mas clinicamente não observa-se maior percentual de sofredores de coluna neste segmento populacional.

  • SEDENTARISMO: “A coluna agradece a prática de exercícios. Vários fatores fazem das atividades físicas grandes colaboradoras do corpo. Entre eles: fortalecimento muscular, aumento da flexibilidade e melhora da irrigação sanguínea das fibras musculares da região dorsal”.

  • CARREGAR PESO DE FORMA EXCESSIVA: “Apoiar bolsas ou sacolas pesadas em um só lado do corpo pode agravar as dores na coluna”.

  • CIGARRO: “Tem substâncias que prejudicam a circulação sanguínea. A menor irrigação dos vasos nos discos vertebrais que protegem a coluna faz com que esses percam a maleabilidade. Como sua função é absorver os impactos que a coluna sofre no dia-a-dia, é como se ficássemos sem nosso ‘amortecedor’ natural”.

  • IDADE: “É o único fator de risco que não pode ser alterado. As pessoas com mais de 60 anos têm mais chances de sofrerem de dores na coluna. O que pode ser feito é desenvolver a consciência corporal ao longo da vida”.

    Idade acarreta alguns problemas, como osteoartrose — mas não necessariamente dor.

  • FALTA DE CONSCIÊNCIA CORPORAL: “Saber como levantar da cadeira e da cama, como se sentar adequadamente, como se vestir e até escovar os dentes e cortar os alimentos fazem parte da consciência corporal”.

    Simples mudanças de hábitos podem resolver até 70% do problema.

  • REEDUCAÇÃO POSTURAL: “Adotar hábitos de vida saudáveis, como praticar atividades físicas, manter o peso adequado e não fumar colabora para a saúde da coluna. Entretanto, boa parte das dores é causada por problemas de postura incorreta. Nesses casos, além dos hábitos saudáveis é preciso se valer da reeducação postural”.

Parece óbvio para nós, Quiropraxistas. Mas a maneira como o autor enfoca esses fatores de risco não deixa de ser uma atitude meio visionária no universo alopata.

Não obstante, prevenir bem a coluna que tem ainda é a melhor saída. O especialistas da coluna vertebral do Hospital Albert Einstein elaboraram uma lista com dicas de prevenção. São elas:

  • “SENTAR-SE COM COMFORTO – Apóie as costas no encosto da cadeira, de maneira que os joelhos fiquem acima do nível do quadril e os pés fiquem bem apoiados no chão. Se possível, use ainda apoio para os pés e prefira cadeiras com braços, pois não forçam a coluna e facilitam o ato de levantar”.

  • “DIVISÃO DE PESO – Na hora de carregar bolsas, malas e pacotes, divida os pesos igualmente nos dois lados do corpo. Levar tudo em um dos braços pode trazer complicações e dores na coluna”.

  • “LEVANTAMENTO DE OBJETOS – Para levantar qualquer objeto do chão, dobre os joelhos (fique de cócoras). Assim o peso será absorvido pelos músculos das pernas e não pela coluna vertebral. Jamais curve apenas as costas para alcançar e levantar qualquer objeto, mesmo os mais leves”.

  • “ENTRAR E SAIR DO CARRO – Tanto para entrar como para sair do automóvel fique sentado, gire as pernas e o tronco ao mesmo tempo (para dentro ao entrar; para fora ao sair do veículo). É importante evitar torcer as costas”.

  • “MÁXIMO ALCANCE – Use banco ou escada sempre que objeto estiver numa altura acima de sua cabeça. Nunca estique as pernas nem force a coluna para alcançar o que deseja”.

  • “BEM-VESTIDO – Vista as roupas sentado. Sua coluna agradece. Calçar meias e sapatos e mesmo vestir uma calça em pé, dobrando-se para frente, pode causar dores nas costas e na região lombar, devido à torção que a coluna precisa realizar”.

  • “TRATAMENTOS – É comum utilizar — e até abusar — de analgésicos, relaxantes musculares e antiinflamatórios quando se trata de dores nas costas. Muitas vezes um desses medicamentos pode bastar para conter a dor. Entretanto, o indicado é sempre procurar um especialista: a dor pode esconder algum problema mais sério e, em todos os casos, descobrir sua origem é fundamental para evitar o agravamento da condição”.

Mesmo que pareçam meio óbvias, estas dicas são de grande valia para prevenir futuras crises de coluna. A beleza está nos detalhes. Coisas pequenas que terão um grande resultado.

No seu livro, o doutor Goldberg também enfatiza atividades como fisioterapia, RPG, rolfing, Pilates, acupuntura, massagem e ioga para reabilitar, e, mais importante, PREVENIR futuras dores de coluna. Faltou a Quiropraxia.

Viver saudável e sem dor é sempre a melhor pedida. Porque não há preço que pague possuir qualidade de vida, não é verdade?